A obesidade é uma doença de prevalência crescente, e que vem adquirindo proporções alarmantemente epidêmicas e traz consigo um risco aumentado para inúmeras doenças crônicas.
O diagnóstico da obesidade é realizado na prática clínica pelo cálculo do IMC (divisão do peso em kilograma (kg) pela altura em metros (m) elevada ao quadrado = kg/m2), no entanto sabemos que este método possui algumas limitações como não ser possível distinguir massa magra de massa gorda e também não reflete a distribuição corporal de gordura. Classificamos como Sobrepeso os indivíduos com IMC entre 25-29,9 kg/m2, Obesidade Grau 1 IMC entre 30-34,9 kg/m2, Obesidade Grau 2 IMC entre 35-39,9 kg/m2 e Obesidade Grau 3 IMC ≥ 40 kg/m2.
Tratamento:
O tratamento da Obesidade é complexo e multidisciplinar, sempre realizado de forma individualizada, com foco na modificação dos hábitos de vida relacionados com orientações nutricionais e exercícios físicos. O paciente deve estar ciente que não existe nenhum tratamento farmacológico em longo prazo que não envolva mudança de estilo de vida.
No momento da consulta médica, estabelecemos o grau de obesidade do paciente e se há indicação de tratamento medicamentoso, que ocorre nas seguintes ocasiões:
- IMC ≥ 30 kg/m2
- IMC ≥ 25 ou 27 kg/m2 na presença de comorbidades, além de
- Sem sucesso em perder peso com tratamento não farmacológico (dieta com restrição calórica).
Consideramos sucesso no tratamento da obesidade a habilidade de atingir e manter uma perda de peso clinicamente útil, que resulte em efeitos benéficos sobre doenças associadas, como diabetes tipo 2, hipertensão e dislipidemia. As metas de perda de peso devem ser realistas, mas significativas, e quanto maior a perda ponderal maiores são os benefícios. Uma meta inicial de perda de 5 a 10% do peso inicial em seis meses é factível e considerada um critério mínimo de sucesso. As medicações anti-obesidade devem sempre ser utilizadas sob supervisão médica contínua e a escolha medicamentosa é moldada para cada paciente.
Devemos sempre lembrar que a obesidade é uma doença crônica, que necessita de acompanhamento e tratamento medicamentoso de longo prazo e muitas vezes tende a recorrer após a perda de peso, caso o uso da medicação seja descontinuado, por isso o seguimento com o médico endocrinologista é de extrema importância.
Nos casos em que os pacientes realizaram seguimento para perda de peso num período mínimo de dois anos, porém não apresentaram reposta ao tratamento clínico satisfatória, este paciente é reavaliado e caso haja a indicação do tratamento cirúrgico da obesidade, o mesmo deverá ser encaminhado para a cirurgia, lembrando sempre que há critérios médicos rigorosos para esta indicação.
Para os pacientes com indicação ao tratamento cirúrgico, o endocrinologista deverá pesquisar e tratar, durante a avaliação pré-operatória, eventuais doenças relacionadas à obesidade como diabetes mellitus, hipertensão arterial e esteatose hepática, bem como eventuais distúrbios hormonais (ex: hipotireoidismo, Síndrome de Cushing) que possam contribuir para essas condições, além de descartar o uso de medicações que possam interferir no ganho de peso.
Nos casos de indivíduos diabéticos em descontrole metabólico e que estejam em tratamento com antidiabéticos orais e/ou insulina, a cirurgia deve ser adiada até que se consiga um melhor controle glicêmico visando diminuir os riscos de complicações durante e após a cirurgia.
Após a cirurgia o acompanhamento endocrinológico também é necessário. Sua avaliação, juntamente com a da equipe multidisciplinar, permite identificar precocemente sinais de deficiência de macro e micronutrientes. Além disso, o ajuste da dose dos medicamentos que o paciente utiliza, ou a suspensão destes, deve ser sempre orientado pelo endocrinologista.